quinta-feira, 7 de abril de 2011

Contexto Econômico, Político e Social

Com a reabertura do Mediterrâneo durante o século XIII, o comércio italiano intensificou-se, fazendo emergir uma camada burguesa. Essa atividade comercial das repúblicas marítimas, somado a atividade banqueira de Florença, foi responsável pelo antecipado desenvolvimento econômico e urbano na Itália e consequentemente, responsável por um novo modelo de vida baseado em novas relações sociais. Assim, esse desenvolvimento econômico e urbano possibilitou também um desenvolvimento cultural e artístico antecipado em relação as demais nações, dando origem ao que denominamos Renascimento.
Esse movimento de mudanças culturais,  apesar de ser caracterizado pela retomada dos valores da cultura greco-romana não era simplismente uma cópia dos valores da cultura clássica mas sim, uma utilização desses de uma nova maneira baseando-se em uma realidade bem diferente da passada. Entre os valores difundidos no seio da Renascença está o antropocentrismo, ou seja, ao fazer do “homem a medida de todas as coisas” compreendia o mundo como produto da ação do homem. Outro valor difundido era o racionalismo, ou seja, a idéia de que tudo é compreensível e explicável através do uso da razão humana. É na busca dessa explicação que tem o origem o experimentalismo (empirismo), que em Maquiavel pode ser observado quando esse utiliza-se da análise da história para construção de sua teoria.  Também, o individualismo ( não o isolamento do homem)  foi um valor renascentista, demonstrando a capacidade do homem de conduzir sua vida e fazer opções . Esse trouxe consigo o hedonismo ou seja, o “culto ao prazer”, a capacidade do homem de agir em busca do seu prazer. Esse por sua vez, traz  amarrado consido a idéia do realismo: a mesma idéia aplicada aos Estados, que agem motivados apenas pelo poder e manutenção da segurança, não levando em consideração a ética.Além disso, cabe ressaltar ao naturalismo, que instigou uma maior observação do homem em relação ao mundo exterior.
Quando do nascimento de Maquiavel, a península era constituída por pequenas cidades-Estado, cada qual com seu próprio regime político e econômico.  Foi justamente esse mosaico que levava a conflitos constantes e que abria brechas para invasões estrangeiras. Pela falta de organização das cidades-Estados e pela ausência de uma liderança centralizada - já que cada pequeno principado era governado de forma autoritária -  e pela política temporal do papado, a Itália  acabou sendo fruto de constantes invasões estrangeiras. Assim, no campo político, Maquiavel cresceu em um cenário muito conturbado, onde a maioria dos governantes não conseguia manter-se no poder por muito tempo. Assim, a forte descentralização política na Itália dessa época incitava muitos a procurarem homens fortes para reestabelecer a ordem e a buscarem proteção contra invasões estrangeiras e, é nesse contexto que a teoria de Maquiavel ganha grande relevância ao escrever uma espécie de manual que dá direções aos príncipes para manterem-se no poder e por fim a essa instabilidade.
Para isso, Maquiavel faz uma análise dos clássicos como era típico dos renassentistas. Voltando à Platão e à Aristóteles, Maquiavel acredita ser a melhor maneira analisar a realidade tal como ela é e não como gostaríamos que fossemos. Rejeitando Platão, Aristóteles e Tomás de Aquino, dá continuação a trilha iniciada por historiadores como Tucídides, sendo assim considerado o “pai do Realismo”.
Há ainda uma ligação com a Reforma – iniciada “oficialmente” quatro anos após a publicação de O príncipe - , já que Maquiavel é um dos fomentadores de um Estado autônomo. Na Idade Média, a autoridade papal interferia na autoridade do rei, enfraquecendo o poder desse sobre o Estado. Com a Teoria do Estado Independente, que defende a construção de um Estado independente da Igreja governado de modo autônomo, Maquiavel é considerado um dos fundamentadores dos ideais defendidos pelos reformadores. A “autonomização”  defendida -  colocação da esfera política à parte da esfera privada – é percebida quando Maquiavel separa a moral individual da moral pública. Assim, mais uma vez o Realismo aparece na teoria de Maquiavel, já que dessa origina a idéia de que nenhum padrão ético é aplicável às relações entre os Estados. Essas relações são governadas apenas pelo poder, a moral não tem influência. A consequência da “ruptura maquiaveliana na teoria política foi ‘chamar a atenção para o elemento dinâmico da busca sem travas do interesse [próprio], e estabelecer o interesse como ponto de partida para a maior parte das teorizações posteriores”. (MIGUEL, Luis Felipe. “O nacimento da política moderna”, pg 116)
Conclui-se que Maquiavel foi muito influenciado pelo meio em que viveu, no período de transição entre a Idade Média e Moderna. Como nasceu na Itália, berço do Renascimento com o desenvolvimento das cidades e do comércio, Maquiavel acaba tendo contato com diversas culturas. Isso deve-se principalmente pela importância que o Mar Mediterrâneo, principal rota de ligação entre os países teve até aproximadamente 1450.
O contato bastante vasto que teve, deu à Maquiavel a possibilidade de observar diversas culturas e analisá-las, abstraindo assim o melhor de cada civilização diferente para posteriormente formular sua teoria acerca dos príncipes, dos principados e da maneira como aquele deve agir para manter-se no poder.

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